19/02/2021

Vitamina D não reduz tempo de internação em casos graves de covid, aponta pesquisa da USP

Vitamina D não reduz tempo de internação em casos graves de covid, aponta pesquisa da USP


 


Em estudo com 240 pacientes internados no Hospital das Clínicas, a suplementação também não diminuiu mortalidade, nem demanda por UTI e ventilação mecânica


 


A suplementação com vitamina D não proporciona melhoras significativas em casos de covid-19 moderada ou grave, revela pesquisa da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), realizada com 240 pacientes internados em São Paulo. Os pesquisadores verificaram que a suplementação não altera o tempo médio de internação e não tem influência para evitar a necessidade do uso ventilação mecânica, de admissão em UTI e na ocorrência de mortes. Os resultados do estudo são descritos em artigo publicado no site do Journal of American Association of Medicine (JAMA) em 17 de fevereiro.


“A vitamina D apresenta uma importante atividade biológica no organismo, com efeito antimicrobiano, anti-inflamatório e imunológico. Neste sentido, a hipótese da pesquisa era se a vitamina D poderia reduzir a replicação do vírus da covid-19 e a resposta inflamatória grave causada pela infecção e melhorar a parte imunológica dos pacientes”, explica ao Jornal da USP a professora Rosa Maria Pereira, da FMUSP, coordenadora do estudo.


Desta maneira, os pesquisadores avaliaram 240 pacientes internados no Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP e no Hospital de Campanha do Ibirapuera entre os dias 2 de junho e 27 de agosto do ano passado. “Inicialmente foram incluídos pacientes que deram entrada no Pronto Socorro do HC, e depois, com a redução do número de internações no local, que foram admitidos no Hospital de Campanha, sempre com diagnóstico de doença moderada ou grave”, relata a professora. “Metade dos pacientes recebeu uma dose única e alta de vitamina D (200.000 UI), na forma de xarope, preparado pela Farmácia do HC, e os demais uma dose de placebo, ou seja, o mesmo xarope, só que sem nenhum efeito.”


Em primeiro lugar, o estudo avaliou se a vitamina D diminui o tempo de internação nos casos de covid-19. “Ao mesmo tempo, foi verificado quantos pacientes morreram, quantos foram admitidos na UTI e qual o número dos que necessitaram de intubação ou ventilação mecânica para manter a oxigenação do sangue”, observa Rosa Maria. A última avaliação dos pacientes aconteceu em 7 de outubro.


De acordo com a professora, a pesquisa não detectou nenhum efeito significativo da suplementação:


“O tempo mediano de internação foi o mesmo entre os pacientes suplementados e os que receberam placebo, sete dias. No primeiro grupo variou entre quatro e dez dias e, no segundo, entre cinco e 13 dias”


“A mortalidade foi de 7,6% com a vitamina D e 5,1% com o placebo. A admissão na UTI registrou 16% com a vitamina e 21% com o placebo e a ventilação e o uso de ventilação mecânica foi de 7% com a suplementação e 14,4% com o placebo”, relata a professora.


Segundo Rosa Maria, a conclusão do estudo é que a vitamina D não proporcionou melhoras relevantes nos pacientes com doença moderada e grave em nenhum dos desfechos analisados. “É importante salientar que o estudo não avaliou o efeito da suplementação em pessoas com formas leves de covid-19 e nem como forma de prevenção”, afirma. “Um novo estudo irá verificar se a concentração basal de vitamina D no sangue tem relação com o desenvolvimento de doença leve ou não.”


O artigo Effect of a Single High Dose of Vitamin D3 on Hospital Length of Stay in Patients With Moderate to Severe COVID-19 A Randomized Clinical Trial, foi publicado no site da JAMA em 17 de fevereiro.


O trabalho foi escrito pelos pesquisadores Igor Murai, Alan Fernandes, Lucas Sales, Camila Duran, Carla Silva, André Franco, Marina Macedo Henrique Dalmolin, Janaína Baggio, Guilherme Balbi, Bruna Reis, Valéria Caparbo e a professora Rosa Maria Pereira, da Divisão de Reumatologia do HC, Ana Pinto, Karla Goessler e o professor Bruno Gualano, do Grupo de Pesquisa Aplicada em Fisiologia e Nutrição da FMUSP, e Leila Antonangelo, da Divisão de Patologia Clínica do HC.


A pesquisa teve financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).


Noticia retirada do site do Jornal da USP

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