“É importante que tenham casos como esse para termos certeza de que a cura é possível”, afirma Ricardo Vasconcelos
Micrografia eletrônica de varredura de HIV, em cor verde, saindo de um linfócito cultivado – Foto: Wikimedia Commons
Durante a Conferência Internacional de Aids, que ocorreu em 27 de julho, realizada em Washington, EUA, foi anunciado que um homem não identificado era o quarto caso de paciente curado do HIV. Com diagnóstico do Vírus da Imunodeficiência Adquirida desde 1988, ele tornou-se o caso de cura com mais tempo vivendo com a doença. Para isso, o paciente recebeu um transplante de medula óssea para o tratamento de uma leucemia no sangue e, por coincidência, o doador era imune ao HIV. Ele está há 17 meses em remissão, o que significa que o vírus não está sendo detectado em seu corpo.
Embora o paciente esteja curado, o tratamento por transplante de medula óssea (TMO), utilizado contra a leucemia, não é indicado para a cura dos milhões de infectados com o vírus. “É até importante que as pessoas saibam que o TMO é um procedimento bastante complexo e cheio de riscos. Imagina você acabar com toda a imunidade que a pessoa tem” explica o médico infectologista do Ambulatório Especializado em HIV do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, pesquisador e coordenador do estudo Mosaico sobre vacina contra HIV. Ele afirma que “é importante que tenham casos como esse para ter certeza de que a cura é possível”, mesmo sem vacina desenvolvida.
O HIV afeta, sobretudo, homens que mantêm relações sexuais com homens. A recente epidemia da varíola dos macacos também chama a atenção para a contaminação neste grupo e abriu espaço para uma nova onda de preconceitos. “É impossível não se relacionar (a varíola dos macacos) com a década de 1980 e o começo da pandemia de HIV. É um paralelo que todo mundo faz, mas eu acho importante tomarmos cuidado para não estigmatizar essas pessoas”, sugere Vasconcelos. Para ele, a atribuição do risco exclusivo a esses homens causa a impressão popular de não haver necessidade de preocupação com o HIV.
ESTUDO MOSAICO
Por meio da pesquisa de eficácia da vacina experimental para prevenir o HIV, o Estudo Mosaico tem procurado por soluções em larga escala na cura do vírus. O infectologista, que coordena o estudo, notifica que o Mosaico não é o único projeto com esse propósito: “Ainda que o Mosaico não consiga encontrar bons resultados, já existe uma expectativa muito grande em cima dessa vacina de RNA mensageiro que está a caminho”.
A vacina em desenvolvimento pelo Mosaico segue a tecnologia das vacinas da Janssen e AstraZeneca contra a covid-19. O material genético do adenovírus, um vírus modificado em laboratório para ser inofensivo aos humanos, é enxertado com genes do HIV com o intuito de receber uma resposta imune decorrente da vacinação. “A pessoa vacinada com adenovírus produziria uma resposta anti-HIV sem nunca ter encontrado com HIV na vida”, esclarece Vasconcelos.
Ouça aqui a entrevista completa ao Jornal da USP (Radio USP)
Notícia retirada do site do Jornal da USP