Psiquiatra fala sobre primeiro medicamento que pode ser eficaz contra Alzheimer
Em análise pela agência reguladora dos EUA, o aducanumab é um anticorpo específico gerado em laboratório, com a finalidade de remover as partículas tóxicas da moléstia, e deve ser utilizado em diagnósticos precoces
Primeiro remédio eficaz contra o Alzheimer entrará em análise pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos EUA. O tratamento para a doença de Alzheimer ainda é um desafio. A causa de demência entre homens e mulheres com mais de 60 anos tem como primeiro sintoma o prejuízo da memória episódica, ou seja, a capacidade de gerar novas informações e o esquecimento de fatos recentes. O Alzheimer afeta 45 milhões de pessoas em todo o mundo. O Jornal da USP no Ar de hoje (24) conversa com Orestes Vicente Forlenza, psiquiatra e professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina (FM) da USP.
O aducanumab é um anticorpo monoclonal de uma classe de compostos que tem sido testada para terapia específica da doença, baseada na imunoterapia passiva. Como explica Forlenza, um anticorpo monoclonal é um anticorpo específico gerado em laboratório com a finalidade de remover as partículas que tenham ação tóxica na doença. Embora a droga tenha sido comprovada como eficaz na tarefa de remover as partículas tóxicas, Forlenza avalia que não houve benefícios clínicos: ”O que se observou é que nem sempre [a remoção] vinha acompanhada de benefícios clínicos, ou seja, embora você tenha uma eficácia no mecanismo biológico, que é remover o amiloide, não se encontrou um benefício para a função do indivíduo”.
Forlenza compartilha que o dano causado pelo Alzheimer não é revertido em estágio avançado da doença pela remoção do amiloide. Para que se tenham resultados efetivos, é preciso que o tratamento seja iniciado muito mais cedo. “Se você faz a intervenção para remover essa partícula tóxica em um momento em que existe pouco dano, você previne o dano. Essa é a hipótese mais otimista do emprego nessa substância.” O grande desafio é conseguir prever a doença antes de sua evolução. O processo de perda de neurônios começa 15 anos antes dos primeiros sintomas. O professor avalia que, embora as tecnologias tenham avançado para a identificação da doença, ainda é cedo para se pensar num diagnóstico pré-clínico em larga escala. “Eu acredito que esse seja o futuro dessa classe terapêutica: você fazer uma intervenção muito precoce e, se não houver dano, você previne o dano. Se o dano existe, mas é discreto, você interrompe esse processo e a pessoa eventualmente convive com alguma limitação, mas não caminha para um quadro de demência, que é o desfecho tardio da doença de Alzheimer.”
O medicamento em análise, caso aprovado, será a primeira patente de uma droga efetiva contra o Alzheimer. O professor pondera que é preciso aperfeiçoar os métodos de diagnóstico para identificar a população exata que vai se beneficiar desse tratamento, já que ele só teria sucesso em um diagnóstico precoce. “Ele é muito promissor, mas seguramente vai ser um tratamento muito caro e muito difícil de entregar porque envolve uma infusão. (…) Se conseguir identificar esses casos de altíssimo risco para a evolução negativa de manifestação da doença, então teria aí grandes candidatos ao real benefício e até mesmo prevenção da doença.”
Ouça abaixo o audio da entrevista abaixo com o Dr. Orestes Vicente Forlenza
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Noticia retirada do site do Jornal da USP