Tânia Ferraz Alves explica que o medicamento atua na retirada do beta-amiloide e que os estudos demonstram que os pacientes tiveram quase 30% de redução da progressão na parte cognitiva
A medicação, que ainda não foi aprovada no Brasil, deve ser utilizada em estágios iniciais da doença – Imagem: Mabel Amber/Pixabay / Divulgação Jornal da USP
A Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora reguladora ligada ao Departamento de Saúde do governo dos Estados Unidos, aprovou o uso do Leqembi, medicamento contra Alzheimer que desacelera o declínio cognitivo em pacientes que estão nos estágios iniciais da doença. O estudo no qual se baseou a aprovação do medicamento envolveu 1.795 pacientes com comprometimento cognitivo leve ou estágio de demência leve e presença confirmada de patologia beta-amiloide.
Além do Leqembi, o Donanemab é outro medicamento que foi aprovado recentemente e que apresenta como objetivo retardar o avanço da doença. Tânia Ferraz Alves, psiquiatra, diretora das unidades de internação e vice-diretora do corpo clínico do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP), explica que o medicamento é utilizado em um tratamento denominado como anticorpo monoclonal, uma vez que, por mais 20 anos, todos os remédios eram anticolinesterásicos — utilizados em pessoas que já apresentavam a doença de Alzheimer com o objetivo de desacelerar um pouco a sua progressão, mas que tinham algumas limitações de uso.
MEDICAMENTOS E RESULTADOS
“Os anticorpos monoclonais são de um grupo de medicamentos diferentes. Eles agem já na patologia, fazendo uma retirada da placa amiloide”, explica Tânia. Assim, o medicamento atua na retirada do beta-amiloide e os estudos demonstram que os pacientes que tomaram essa medicação com relação a placebos tiveram quase 30% de redução da progressão da doença na parte cognitiva. Esse dado aponta a importância do tratamento, pois a retirada da placa não é suficiente sendo necessária a observação clínica da percepção da melhora.
A especialista reforça ainda que quanto mais cedo for identificada a doença, mais fácil torna-se o tratamento. Hoje, a identificação do Alzheimer ainda depende do declínio cognitivo do paciente, contudo, uma série de técnicas vêm sendo desenvolvidas para detecção da doença por meio dos biomarcadores. “Assim, as pessoas que apresentam um declínio leve, mas que apresentam esses biomarcadores antes de perder sua funcionalidade, já sabem que existe um quadro de comprometimento cognitivo devido ao Alzheimer”, explica.
Apesar de serem benéficos para esses casos, é importante entender que o uso desses medicamentos não está livre de problemas colaterais, uma vez que os estudos demonstraram que uma série de pessoas tiveram um risco maior de sangramento cerebral. Dessa forma, o uso dessa medicação segue um protocolo de realização de acompanhamentos para identificação de sangramentos ou de alterações de riscos.
“A doença vem silenciosa por muito tempo, por isso os biomarcadores são tão importantes. Quanto mais precoce eu identifico, mais os resultados se mostram benéficos e mais os medicamentos que estão sendo desenvolvidos vão mostrar uma resposta positiva”, considera Tânia.
BRASIL
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não aprovou o uso desse medicamento, mas é possível realizar o tratamento com os anticolinesterásicos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que permite um tratamento de quadros instalados com segurança. A médica analisa também que uma questão entre risco e benefício sempre é colocada na avaliação de aplicação para alguns tratamentos.
Os biomarcadores observados para a identificação do Alzheimer ainda são iniciais, mas representam um avanço no desenvolvimento de medicamentos que podem apresentar menos efeitos colaterais, redução de custo e maior eficácia.
Notícia retirada do site do Jornal da USP