Infecções sexualmente transmissíveis entre jovens preocupam especialista
A infectologista Fabiana Lopes Custódio fala sobre o tema, que traz um dado preocupante: em dez anos, os índices da ISTs cresceram 64,9% na população de 15 a 19 anos e 74,8% nos jovens de 20 a 24 anos
“Eu me senti perdido, sem rumo, sem direção, com vontade de sumir, o que seria da minha vida daquele momento em diante?”. Essa foi a reação de SR, um homem de 29 anos que não quis se identificar, após descobrir o diagnóstico de HIV. Assim como ele, outras 43,9 mil pessoas receberam essa notícia em 2018, segundo dados do Ministério da Saúde. E, com as relações sexuais iniciando-se cada vez mais cedo, especialistas estão preocupados com o aumento das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) entre os jovens.
E esse cuidado tem fundamento, já que dados do Boletim Epidemiológico HIV/AIDS revelaram aumento de 64,9% das ISTs entre jovens de 15 a 19 anos e de 74,8% para os de 20 a 24 anos, entre 2009 e 2019. Para a infectologista Fabiana Lopes Custódio, médica do Centro de Saúde Escola Dr. Joel Domingos Machado, ligado à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, o crescimento se deve a uma falsa sensação de segurança que essa parcela da população sente, principalmente por não ter vivenciado as epidemias de HIV e AIDS na década de 1980.
De acordo com a médica, apesar de conhecer a realidade, “a maioria não é sensibilizada por ela”. Sentimento que pode perdurar por toda a vida, pois, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), publicados em 2020, embora homens adultos saibam o que são as infecções sexualmente transmissíveis, 80% se consideram fora de risco para a contaminação e somente 11% afirmam que podem estar em perigo.
“Eu ouço muito de alguns pacientes no consultório dizendo ‘se eu pegar HIV tudo bem, porque tem tratamento e hoje é uma doença como outra qualquer’, só que isso não é bem assim”, conta Fabiana. A médica adverte que, apesar de viverem bem, a médio e longo prazo os pacientes soropositivos podem apresentar sintomas colaterais, além do cansaço em relação ao compromisso contínuo com o tratamento; por isso, alerta que “o melhor caminho é a prevenção”.
Necessidade de modernizar o diálogo com jovens
Apesar do acesso à informação, um outro estudo divulgado pela SBU, feita pela campanha #VemProUro, incentivando adolescentes a procurarem orientação médica, revelou ainda que 41,67% dos jovens não conversam sobre sexo, sendo a família e a escola pouco acessadas para busca de informações. Para a especialista, o cenário revela a necessidade de modernização do diálogo com essa parcela da população, “considerando suas especificidades e seus contextos individuais”.
Ainda de acordo com a pesquisa, 15% dos jovens de 12 a 18 anos já tiveram alguma relação sexual, mas 44% não usaram preservativo na primeira vez e 35% não usam ou raramente usam a camisinha. Entre os meninos, 38% afirmaram não saber sequer colocar a camisinha. Para os que estão iniciando a vida sexual, SR aconselha que conheçam as pessoas com quem vão se relacionar e diz que “as relações sexuais, antes de mais nada, precisam de diálogo”. Além disso, recomenda que façam uso das medidas preventivas, pois, “o HIV não é o fim, mas você pode evitá-lo”.
Sintomas e métodos de prevenção das ISTs
A infectologista conta que os sintomas podem variar, de acordo com o tipo de IST, além de “sinais e sintomas que podem ser mais ou menos incômodos”. Entre os mais comuns, cita corrimentos, verrugas, úlceras, dor local e algumas lesões de pele. Diz que, ao evitar as doenças, é possível evitar complicações como uma doença inflamatória pélvica, que pode causar dor e esterilidade, além da gravidez ectópica (gravidez fora do útero). “É muito importante falar sobre prevenção, porque essas infecções podem se tornar doenças que poderiam ser evitáveis”, alerta Fabiana.
Entre os métodos para prevenção das ISTs, a médica destaca a combinação do uso de preservativo masculino ou feminino, com estratégias de vacinação. Além disso, recomenda o uso de medicações anti HIV, por grupos com comportamentos vulneráveis, como profissionais do sexo, por exemplo.
Onde procurar ajuda?
Em casos de possível exposição a alguma infecção sexualmente transmissível, o indivíduo pode fazer a testagem gratuita pelo Centro de Testagem Anônima (CTA), um programa do Sistema Único de Saúde para o aconselhamento ao diagnóstico do HIV, das hepatites B e C e da sífilis. “É um centro que deve acolher, fazer uma escuta qualificada, realizar os testes rápidos e comunicar esse resultado de imediato com o devido aconselhamento”, adianta a infectologista.
De acordo com a médica, os resultados são confidenciais. Além disso, aconselha que os profissionais reforcem a importância da prevenção combinada, em casos negativos, e encaminhem os pacientes para as vacinas gratuitas disponíveis no SUS. Em casos positivos, lembra que o profissional de saúde deve fazer imediatamente “o encaminhamento para o local adequado para tratamento e redução de danos”. É que, “quanto antes se souber de um diagnóstico e tratar, menor será o impacto na saúde e isso possibilita a quebra na cadeia de transmissão, protegendo futuras parcerias”, afirma.
Entrevista completa abaixo
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Noticia retirada do site do Jornal da USP