Eventos climáticos extremos influenciam negativamente a saúde das pessoas
Paulo Saldiva comenta estudo realizado nos EUA, que apontou que as mudanças climáticas estão relacionadas ao aumento de internações hospitalares de pacientes com doenças crônicas
Uma pesquisa da National Library of Medicine (NIH), dos Estados Unidos, aponta que as mudanças climáticas estão relacionadas ao aumento de internações hospitalares de pacientes com doenças crônicas. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, o professor Paulo Saldiva, titular do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina (FM) da USP, colunista da Rádio USP e um dos responsáveis pelo estudo, dá detalhes.
Saldiva explica que eventos climáticos extremos, que influenciavam na temperatura e no volume de chuvas, e o aumento da eclosão de insetos transmissores de doenças infecciosas (como febre amarela e malária) eram as consequências mais previsíveis da alteração do clima. “Porém, a partir de uns cinco, seis anos atrás, começou a se observar que algumas doenças crônicas também eram afetadas. Um exemplo são os problemas cardiovasculares como a hipertensão, cujos pacientes morriam quando havia ondas de calor e, mais recentemente, indicadores têm surgido em relação à diabete, com impactos na regulação do calor e demais sintomas no metabolismo, e, até mesmo, ao suicídio e comportamentos violentos, que aumentam no calor”, pontua.
Analisando bancos de dados do Sistema Único de Saúde (SUS) em 1.814 cidades do Brasil e seus diferentes climas, constatou-se que o aumento de 5°C por dia causa o aumento do número de internações por diabete nos dois dias subsequentes. Apesar dos avanços científicos na área da saúde, medicamentos não bastam para reverter essa situação, que requer uma “mudança de hábitos e da forma de enxergar o mundo, o que toma tempo”, de acordo com o professor. Isso sofre uma influência direta de comportamentos da sociedade moderna, como o aumento do consumo e do sedentarismo.
O colunista da Rádio USP acredita que uma possível recuperação só se dará com as ações de uma nova geração, que crescerá nesse ambiente difícil e poderá enxergar possíveis soluções por conta disso. “Esse calor, os animais mortos, essas coisas eram invisíveis para nós, mas, para uma criança, um adolescente, agora educados em um processo formativo, observado pelo aumento da demanda por transporte coletivo, pela movimentação por bicicletas, entre outras. Apesar da situação atual ser pior que no passado, acho que a nova geração será mais receptiva a mudanças mais virtuosas”, explica Saldiva, ressaltando que a atual pandemia de coronavírus pode servir como ensinamento para essas questões, pois demandará mais união entre diferentes nações em prol do mesmo objetivo.
Saiba mais ouvindo a entrevista na íntegra clicando aqui.
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Noticia retirada do site do Jornal da USP