Segundo Márcio Mancini, não existe uma dieta, uma medicação nem uma atividade física ideal no tratamento da obesidade, pois cada caso deve ser visto individualmente
O ambiente é muito importante para quem tem predisposição genética para ganhar peso -Foto: Pixabay/Divulgação USP
Estar acima do peso pode ser um problema para muita gente. Tem quem brigue com a balança e faça dietas na busca do emagrecimento, enquanto outros entram em forma com a maior facilidade. Mas como explicar isso? A genética pode ser a responsável pelo ganho ou dificuldade na perda de peso, como explica o médico endocrinologista Márcio Mancini, chefe da Unidade de Obesidade da Disciplina de Endocrinologia e Metabologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. “A genética tem uma influência muito grande tanto na gênese da obesidade quanto no processo de emagrecimento. Estima-se que 60% a 70% da obesidade tem causa genética.” Ele destaca que o ambiente é muito importante para quem tem predisposição genética para ganhar peso. “As pessoas magras, assim como quem está acima do peso, muitas vezes comem o mesmo número de calorias e se exercitam tanto quanto as pessoas com obesidade e não ganham peso.”
O tratamento, segundo o endocrinologista, deve ser individualizado, já que cada pessoa tem um histórico diferente. Há quem já nasceu acima do peso e assim permaneceu por décadas, quem passou por uma gestação e ganhou muito peso e as vezes pessoas que nasceram magras ou abaixo do peso, mas foram engordando até ficarem fora do ideal. Medicamentos, transtornos alimentares e outros fatores também podem contribuir para o problema. Mancini lembra que “essa é uma área muito específica da medicina que, infelizmente, o médico, quando se forma, tem muito pouca informação sobre a obesidade”.
Para tornar ainda mais difícil essa situação, a genética influencia vários processos no organismo, que podem fazer com que a gente sinta mais vontade de comer alimentos gordurosos ou preguiça para praticar exercícios. O especialista explica que “o indivíduo com obesidade não tem que ser olhado como uma pessoa que fez uma escolha por ter um excesso de peso. Não, ele é uma pessoa biologicamente suscetível a ganhar peso e ter obesidade e tem que ter um tratamento garantido”.
NÃO EXISTEM MILAGRES
Não existe uma dieta, uma medicação nem uma atividade física ideal no tratamento da obesidade. “Eu não estou falando de quem quer perder dois ou três quilos. Cada paciente tem que ser visto individualmente, de acordo com suas preferências, as correções alimentares têm que ser paulatinas, aos poucos, sem dietas radicais e com atividades físicas direcionadas, de acordo com eventuais contraindicações cardiológicas, ortopédicas… Eu estou falando de uma doença, e não estou falando de uma preferência individual por ter um peso um pouquinho maior ou menor.”
No tratamento da obesidade, um conceito muito importante que as sociedades médicas da área têm defendido é o da obesidade controlada. “O objetivo do tratamento não é normalizar o peso, ter uma barriga tanquinho ou fazer o cálculo do índice de massa corpórea e normalizar o índice. O objetivo é melhorar a saúde e isso se consegue com perdas, às vezes, de 5% a 10% do peso inicial. Essa pode não ser a expectativa do paciente e isso deve ser conversado na primeira consulta, mas a expectativa não pode ser irreal.” O especialista lembra que “é muito raro as pessoas perderem dezenas de quilos. Com a redução, a saúde melhora consideravelmente e a pessoa terá a doença controlada, já que a obesidade é crônica e precisará de tratamento pelo resto da vida, assim como a hipertensão e o diabete”.
Ouça aqui a entrevista completa.
Notícia retirada do site do Jornal da USP