26/01/2022

Cola biológica ajuda na recuperação do movimento após lesão medular, diz estudo

Material derivado do veneno de serpentes e do sangue de búfalos foi usado em cirurgia de reparo feita em camundongos, em associação com fármaco neuroprotetor, resultando na sobrevivência de 70% dos neurônios afetados. Projeto venceu prêmio de inovação em ciências farmacêuticas


 


Uma pesquisa de doutorado que testou o uso de uma cola biológica no reparo cirúrgico de lesões na medula espinhal foi o vencedor na categoria Masters do Prêmio Pio Corrêa de Inovação em Ciências Farmacêuticas da Biodiversidade Brasileira 2021, promovido pela Academia de Ciências Farmacêuticas do Brasil (ACFB).


Em experimentos com camundongos, o procedimento cirúrgico foi associado ao tratamento com um medicamento neuroprotetor e anti-inflamatório, resultando na sobrevivência de 70% dos neurônios afetados e possibilitando aos animais recuperar 50% do movimento no membro afetado.


O projeto foi desenvolvido por Paula Regina Gelinski Kempe, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Estrutural (BCE) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e bolsista da FAPESP.


A pesquisa é orientada pelo professor Alexandre Leite Rodrigues de Oliveira, da Unicamp, e está vinculada ao Projeto Temático “Recuperação sensório-motora após axotomia de raízes medulares: emprego de diferentes abordagens experimentais”.


“Nosso estudo utilizou o biopolímero de fibrina, uma cola biológica derivada do veneno de serpente e de sangue de bubalinos [búfalos], como adjuvante para o reparo cirúrgico de lesões na medula espinhal. O biopolímero de fibrina foi desenvolvido no Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos da Universidade Estadual Paulista em Botucatu [Cevap-Unesp]. Apresenta efeitos neuroprotetores e anti-inflamatórios, permitindo que o reparo da lesão seja mais eficiente, sem a necessidade de suturas”, diz Oliveira à Agência FAPESP.


Segundo o professor, além da cola biológica, o estudo utilizou terapia farmacológica com dimetil fumarato, uma droga já empregada no tratamento de esclerose múltipla e psoríase.




“O dimetil fumarato também apresenta efeitos neuroprotetores e anti-inflamatórios, além de efeitos antioxidantes. Como modelo experimental, a avulsão de raízes motoras em ratos foi utilizada. A avulsão é o arrancamento das raízes nervosas por tração, na interface entre o sistema nervoso central e periférico, interrompendo os comandos motores, gerando paralisia muscular”, explica.




A combinação entre reparo cirúrgico com selante de fibrina e tratamento farmacológico com dimetil fumarato, após três meses da lesão, resultou em sobrevivência neuronal de até 70% dos neurônios motores afetados. Houve importante preservação dos contatos entre esses neurônios (sinapses), diminuição da inflamação tecidual e recuperação de até 50% dos movimentos do membro afetado.


“Tais resultados são promissores e fazem acreditar numa aplicação clínica viável no futuro, melhorando a qualidade de vida dos pacientes, com maior autonomia e produtividade”, afirma Oliveira.


A perda de movimento de membros pode ocorrer após acidentes que causam danos na medula espinhal ou em nervos periféricos, como quedas de moto, atropelamentos, acidentes automobilísticos, quedas e mergulhos em águas rasas. Os sintomas decorrentes da lesão medular se devem à morte neuronal, bem como à desconexão do sistema nervoso central com os músculos, além de grande inflamação local, que gera dor intensa.


Atualmente são limitadas as cirurgias de reparo desse tipo de lesão e tratamentos farmacológicos paliativos são usados para reduzir a dor. No entanto, ainda não existem métodos que promovam melhora tanto em nível celular quanto funcional, levando à perda de qualidade de vida dos indivíduos afetados.


O Prêmio Pio Corrêa de Inovação em Ciências Farmacêuticas da Biodiversidade Brasileira foi instituído pela ACFB com a finalidade de reconhecer publicamente e estimular profissionais que atuam no Brasil nas diversas áreas das ciências farmacêuticas relacionadas à biodiversidade brasileira.


Noticia retirada do site da Agencia FAPESP

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