18/04/2022

Cientistas da FMUSP e do ICESP utilizam Inteligência Artificial para detectar câncer do esôfago

Nova tecnologia analisa o núcleo de células suspeitas e pode facilitar o diagnóstico de câncer por médicos não especialistas


Em novo ensaio clínico conduzido na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), pesquisadores utilizaram com sucesso um novo dispositivo móvel de microendoscopia de alta resolução (HRME, da sigla em inglês), que realiza diagnósticos através de uma biópsia óptica assistida por computador. O ensaio teve patrocínio do National Institute of Health (NIH). A iniciativa faz parte da Baylor Global Health, que integra a Baylor College of Medicine, em Houston, Texas, e é inédita no Brasil. Os investigadores principais foram a Profa. Sharmila Anandasabapathy, diretora da Baylor Global Health, vice-presidente da Baylor College of Medicine e o Prof. Dr. Fauze Maluf Filho.


O dispositivo utiliza tecnologia portátil e de baixo custo, capaz de produzir um diagnóstico e detectar casos de câncer do esôfago em tempo real, graças ao uso da tecnologia de Inteligência Artificial. “Isso retira a subjetividade e faz com o equipamento possa ser utilizado mesmo por médicos que não sejam experts”, diz o Prof. Dr. Fauze Maluf Filho, médico chefe do Serviço de Endoscopia do ICESP e Livre-Docente do Departamento de Gastroenterologia da FMUSP.


Ele explica que o dispositivo analisa o tamanho e o aspecto do núcleo de células suspeitas, sendo que as células cancerígenas têm núcleos maiores e mais desorganizados em sua forma. “Isso fornece uma acurácia muito boa para saber se aquela lesão é benigna ou maligna”, diz o Dr. Fauze.


Para realização do exame com o dispositivo, primeiro localiza-se a área suspeita no esôfago através de uma endoscopia. Em seguida, aplica-se um corante chamado proflavina, que é captado pelo núcleo das células. É então inserida uma sonda de aproximadamente dois milímetros, que faz contato com a área suspeita. A partir daí, obtém-se imagens dos núcleos das células, já tingidos com a proflavina, que são utilizadas no diagnóstico.


“Hoje em dia existem técnicas muito interessantes para detecção de câncer, mas sempre depende do fato de o médico ser muito especializado”, diz o Dr, Fauze Maluf Filho. Assim, o uso de um dispositivo com Inteligência Artificial, como no ensaio clínico da FMUSP, torna-se uma alternativa importante à investigação com exames que requerem grande demanda de profissionais específicos. “Com esse aparelho, outros médicos não tão experientes poderiam colaborar no rastreamento do câncer.”


NO BRASIL


Segundo informação do Instituto Nacional do Câncer (INCA), no Brasil, o câncer de esôfago (tubo que liga a garganta ao estômago) é o sexto mais frequente entre os homens e o 15º entre as mulheres. Ainda de acordo com o Instituto, o carcinoma epidermoide escamoso é o tipo de câncer de esôfago mais frequente, sendo responsável por 96% dos casos, e o adenocarcinoma “vem aumentando significativamente''.


O Dr. Fauze explica que o Brasil e a América Latina apresentam taxas mais elevadas destes tipos de câncer do que países de alta renda. No caso do adenocarcinoma gástrico, essa elevação está associada à infecção por Helicobacter pylori (espécie de bactéria), endêmica em nosso país. Em relação ao câncer epidermóide, o consumo de álcool e tabaco, o mau estado dentário, e uma dieta inadequada com baixo consumo de frutas, verduras e alimentos ricos em vitamina C também podem contribuir para o número elevado de casos.


Notícia retirada do site da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)

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