12/10/2020

Cientistas apontam procedimento anestésico que causa menos dor em cirurgias do olho

Cientistas apontam procedimento anestésico que causa menos dor em cirurgias do olho


 


Estudo avaliou pacientes submetidos a métodos anestésicos usados na vitrectomia (remoção e substituição de fluido do globo ocular) para entender qual trazia mais conforto


 


Em cirurgias do globo ocular, o processo de anestesia pode causar sofrimento e dor no paciente. Afinal, visualizar uma agulha vindo em direção ao seu olho não é nada confortável. Em cirurgias em que há remoção e substituição do vítreo, fluido gelatinoso do globo ocular (vitrectomia), há duas técnicas normalmente aplicadas: a peribulbar e a subtenoniana. Mas qual delas poderia proporcionar menores índices de sofrimento ao paciente? A busca por uma resposta levou cientistas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP a avaliarem em pesquisa as duas técnicas de anestesia.“Trata-se do primeiro estudo randomizado a comparar as duas técnicas usadas em cirurgias oftalmológicas. A anestesia subtenoniana se mostrou mais confortável aos pacientes”, revela o médico oftalmologista Jefferson Augusto Santana Ribeiro.


Os resultados do estudo foram publicados, recentemente, na revista científica internacional PLOS ONE no artigo intitulado Pain during pars plana vitrectomy following sub-Tenon versus peribulbar anestesia: A randomized trial (A dor durante a cirurgia de vitrectomia comparando anestesia subtenoniana com a peribulbar: Estudo randomizado), que tem Jefferson Augusto Ribeiro como primeiro autor. O trabalho foi desenvolvido no programa de pós-doutorado do oftalmologista, que foi realizado com a supervisão do professor Rodrigo Jorge, da FMRP.


Vitrectomia


O médico oftalmologista explica que a vitrectomia é um procedimento usado em cirurgias oftalmológicas para tratar doenças do segmento ocular posterior. “Ou seja, problemas que acontecem na parte de trás do globo ocular. Uma das cirurgias que têm essa característica é a de descolamento de retina”, descreve Ribeiro.


De acordo com o cientista, o globo ocular em sua parte posterior é preenchido por uma espécie de gel denominado humor vítreo. “No processo cirúrgico como o de descolamento de retina, por exemplo, esse líquido é retirado e será substituído por gases, óleo de silicone ou pelo próprio soro usado na cirurgia”, descreve o médico oftalmologista. “Com o tempo, o espaço será novamente preenchido pelo humor aquoso, que é produzido constantemente pelo olho”, completa.


Comparações e eficácia


Dentre os dois métodos anestésicos comparados, Ribeiro informa que o peribulbar é o mais difundido e tradicional. “Ambos foram desenvolvidos no começo do século passado, mas nós quisemos comprovar que o subtenoniano é tão eficaz, principalmente no controle da dor nos pacientes”, diz.


No método peribulbar o cirurgião consegue provocar uma paralisia da motilidade ocular durante a cirurgia. Ou seja, a musculatura é paralisada. “Nessa técnica, que é mais barata, são utilizados anestésico e uma agulha de injeção normal”, descreve o médico, lembrando que o procedimento pode ser feito tanto pelo oftalmologista quanto pelo anestesista. “No procedimento peribulbar a agulha é injetada na parte inferior da pálpebra e o paciente sente uma dor considerável. Vimos numa revisão de literatura que esse procedimento causa muita ansiedade nos pacientes até pelo fato de ele ver a agulha se aproximando”, destaca Ribeiro.


Após a introdução da agulha, uma grande quantidade de anestésico é injetada no olho a ser operado. É quando, segundo o médico, o paciente sente outras partes do rosto, além do olho, paralisadas.


Já na modalidade subtenoniana, o procedimento é feito realizando-se uma abertura na conjuntiva do globo ocular. “Na parte branca da superfície do olho o próprio oftalmologista faz uma pequena incisão usando uma tesoura”, como explica Jefferson. E será por esta pequena abertura que o oftalmologista irá inserir uma agulha “romba” (sem ponta), também chamada cânula, para a introdução do anestésico.


“Mas antes de tudo isso, uma espécie de geleia anestésica é aplicada no olho, o que proporciona ao paciente maior conforto antes da incisão. A maioria dos pacientes não sente qualquer dor, como pudemos avaliar”, afirma. Segundo o médico, a anestesia subtenoniana proporciona a administração da quantidade necessária de anestésico e evita os efeitos colaterais causados pelo espalhamento de anestesia na técnica peribulbar.


Mesmo sendo uma técnica com um custo um pouco maior, a subtenoniana mostra-se mais eficaz com relação ao conforto dos pacientes. “Além do que, é também mais segura”, garante o médico.


Dor como parâmetro


O trabalho, iniciado no ano passado, envolveu 54 pacientes que foram divididos em dois grupos para cada tipo de procedimento anestésico, sendo 28 deles submetidos à peribulbar e 26 à subtenoniana. “Eles não sabiam a qual grupo pertenceram durante os procedimentos”, afirma Jefferson Ribeiro.


O parâmetro avaliado na pesquisa foi o da dor durante todo o procedimento, desde a anestesia até a cirurgia. “O grupo submetido à anestesia do tipo subtenoniana informou uma percepção de dor menor em relação aos que foram submetidos à peribulbar”, destaca o médico.


Para aferir os parâmetros, o médico utilizou a Escala Analógica Visual da Dor, em que o paciente posiciona numa espécie de régua que possui uma escala numérica de zero a 100 o quanto foi sua dor. “De zero, para nenhuma dor, até 100, para a maior dor já sentida. Foi onde pudemos avaliar os melhores resultados para a modalidade subtenoniana”, informa Jefferson Ribeiro, que atualmente é professor de Oftalmologia da Universidade do Estado do Amazonas.


Noticia retirada do site do Jonal da USP

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