30/11/2021

Baixa adesão à imunização infantil aumenta casos de sarampo

Para Marta Heloísa Lopes, uma das hipóteses é que, com o controle do vírus pela ampla vacinação – que vem diminuindo desde 2014 -, o sarampo foi esquecido pela população


 


 



A aplicação da vacina tríplice viral, que confere proteção contra sarampo, caxumba e rubéola, vinha diminuindo desde 2014 – Foto: Divulgação/Sociedade Mineira de Pediatria

 


A Organização Mundial da Saúde alerta sobre a significativa queda na imunização infantil em diversos países, incluindo o Brasil. Segundo dados do órgão, o número de bebês sem vacina contra sarampo é o maior em 20 anos, o que aumenta a possibilidade de surtos. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1º Edição, a especialista Marta Heloísa Lopes, responsável pelo Centro de Imunizações do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, reforça que, embora muito contagioso, o vírus do sarampo é evitável com a vacinação.


Segundo a médica, a aplicação da vacina tríplice viral, que confere proteção contra sarampo, caxumba e rubéola, vinha diminuindo desde 2014. O imunizante, dado em duas doses, uma aos 12 meses de idade e outra aos 15 meses, requer uma cobertura vacinal alta para garantir a imunidade coletiva. “O ideal é que a vacina alcance 95% das crianças nessa faixa etária”, diz Marta. No último ano, no entanto, estima-se que a cobertura tenha sido de apenas 70%.


Os baixos números apresentam causas variadas. Uma das hipóteses, diz Marta, é que, com o controle do vírus pela ampla vacinação, o sarampo foi esquecido pela população. “Sem dúvida alguma, quando a doença se torna menos frequente – o que é o caso do sarampo, que não é mais uma infecção comum, como era 40, 50 anos atrás –, a comunidade a teme menos”, aponta a médica. As oportunidades limitadas para vacinação em Unidades Básicas de Saúde, que funcionam apenas em horário comercial e não abrem aos finais de semana, também dificultam a imunização, uma vez que não correspondem à disponibilidade de muitos pais ou responsáveis.


Adicionalmente, Marta conta que os índices de cobertura vacinal despencaram devido à quarentena. “Os pais não levaram seus filhos aos postos, já que a orientação era não sair de casa e evitar aglomerações. Nós não conseguimos atualizar a vacinação dessas crianças em 2021, mesmo com a flexibilização da pandemia que estamos vivendo nos dias de hoje. Faltam campanhas mais elucidativas, intensas, para que a aderência à vacinação chegue em todos os níveis da população”, orienta a médica.


Com exceção de crianças imunodeprimidas, que não devem receber vacinas que utilizam o vírus vivo, não há restrições para quem deve receber o imunizante. “O ideal é que a criança não esteja com nenhuma doença no momento, mas o contato anterior com o covid-19 não é uma limitação”, explica Marta. O calendário de vacinação infantil é essencial para alcançar o controle do sarampo e outras doenças, enfatiza ela, que também chama atenção para a necessidade de a criança tomar as duas doses: “A segunda aplicação da vacina não é uma ‘dose a mais’, ela está prevista no esquema vacinal da tríplice viral. Não é apenas um reforço”, diz.


Notícia retirada do Jornal da USP

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